QUANDO ÉRAMOS TRIBO
OU
COLAGENS NUM BAÚ DE LOUÇAS E LEVES SAUDADES
Parte 1/3
I
Tenho uma capa de livro;
“Arte de Luiz Carlos Gá,
foto Januário Garcia”
Uma xilogravura
“… oficina de Zé Paixão”
E duas aquarelas feitas
por Djalma do Alegrete.
Nas cores descoloridas
guardo imagem e grafia:
“Solidões suaves vindas de sulicidades soturnas
fracamente refletidas
no peji entreaberto sob as sombras palmarinas
de frondosas oliveiras-silveiras”
II
Imagens entrelaçadas.
Telmas e Lálias.
Vaso de cravinas. Copos e sobremesa.
Ladeira dos Guararapes, Realengo e Botafogo.
Lélias e Beatrizes
Nascimento, vida e morte,
quem diria,
de afetos inconfundíveis.
Felicidade guerreira.
Fortalezas inenarráveis.
Paulo César, o da viola, diz assim,
“meu tempo é hoje, eu não vivo no passado,
mas ele está vivo em mim”.
III
Outro Paulo, o Roberto
circunavegava o Plano Piloto, a feira do Guará, o Núcleo Bandeirante
em Mourarias dialéticas pelos pores-de-sol geometricamente cortados
no horizonte cerrado
Época em que mais um Paulo, o axé da vereadora,
desfilava aús e meias-luas em meio a tardes tórridas
no domingo del Castillo.
Adiante,
Guadalupe
Ubirajara
Rocha Miranda
Portela
Roberto Ribeiro…”cantem samba minha gente, nesta festa que domina…”
Pagodes, forrobodó
Gilson, Eliete, Filó
Cristinas, Terês Babás
Estamos plenos de sílvias,
de flores brancas e negras
Assuntas e Arabelas,
De um Maracanã lotado
memórias doces de Márcias
Bandeiras vascas e afonsinas
Soniando junto a Mhelena(s)
pelas estradas de Pedra
entre ternas a-moreiras
recendendo a Cane(l)las
E quando é o Kaz(u)o,
a nardos do Japão.
IV
Bastantes os Amauris,
Mendes, Muniz e Quietinhos
V
Entre atrizes e cananeias
Giovanas, Bárbaras, ateias
Sandras de cá e de lá
do povo sem ser plebeias
com fábios e favelões
Elisas,
Lu(c)zindas,
Rutelantes no espaço
adimensional do Estácio
Dos livros de Papa-Léguas
sob os cânticos boêmios
da Lapa e do Pelô
VI
Sobraram dor e saudades
de Carlões e Suelizes
Jomos, Tulanes, Mayombes
Sônia e seu casalzinho
com meus filhos e sobrinhos
tudo junto e misturado
na aconchegante clãmília
Quando éramos (mais) felizes.
Holiday, os anos de paz…
VII
Índio e Filhos de Ghandi
das Cavernas da Central
abrindo meu Carnaval
Vi sungo no horizonte
Dendê, Leninha e Samuca
Rita, Lula, Sprito Santo
Oh, lorum, como machuca!
A lembrança, livre, lírica
De quando éramos tribo
E por que não somos mais?
Lawa